terça-feira, 21 de julho de 2009

Um dia de futebol







Foi sábado. O dia amanheceu meio nublado, meio feioso, daqueles dias para ficar em casa com o controle remoto na mão, até que um fato transformou o meu sábado vagal em uma idéia deliciosa:
Meu filho olhou para mim na mesa enquanto tomávamos o café da manhã e disse:
- Pai, faz o maior tempão que você não me leva no jogo do Palmeiras, porrada no fígado. Eu que reclamei a vida toda das falhas do meu pai neste assunto, nunca dava para me levar no jogo do Palmeiras, estava muito cansado e queria curtir o fim de semana em casa, até trauma virou, não podia fazer isso com aquele par de olhos de 9 anos.
Pensei durante a mordida do pão: - Jogo em casa contra o Santo André, sem torcida rival, até dá.
Falei, cheio de autoridade e que tinha entendido o desafio:
- Vamos!
Pronto, o pirralho saiu da mesa e correu para acordar os dois irmãos mais velhos com um - "A gente vai no jogo do Palmeiras!!" 15 segundos depois, os dois descem com aquela cara de porrada do travesseiro a noite toda, claro, felizes e me olhando bem nos olhos: - É verdade pai?
-É!

Cadê a camisa do Palmeiras, é aquela com o número 10, pai, vou com shorts ou calça, foi assim das 10 da manhã até as 15:30hs, pois como moro longe do Parque Antárctica era bom se precaver.
Chegamos, ingressos comprados, 3 meias e uma inteira de arquibancada, lá que é legal, lá que o grito rouco ecoa, é lá que vamos. R$ 75,00.

Entramos exatamente às 17:00hs, o jogo era as 18:30hs, o pequeno já disparou: Tá vazio!!
- Não filhão, ainda é cedo, vai encher você vai ver.
Das 17:01 até a entrada do Palmeiras respondi a 856 perguntas sobre tudo que cercava o estádio, dentro e fora do campo, desde o banheiro muito sujo até porquê tem mais camisa verde do que branca no estádio.
18:15, a torcida grita alucinadamente, Marcos entra no campo puxando os demais jogadores.
Não olhei para o campo, olhei para a cara do meu filho Enzo, o menor. Ele também não olhava o campo, olhava a torcida, esse momento valeu 1 ano de minha vida.
Naquele olhar eu entendi o orgulho de um torcedor, seja de que time for, de fazer parte de uma coisa grande, emocional, gurutal, foi isso que o Enzo sentiu, ele é Palmeirense, mas naquela hora ele era da torcida, ele e mais 19 mil pessoas.
Os meus filhos entre o jogo, um sorvete + água + guaraná + amendoim...olhavam para mim e diziam - Pai, que legal!
O momento mais importante, adicione-se aí mais dois anos de minha vida:
Falta para o Palmeiras, a bola é cruzada e sai o gol, aí valeu tudo.
Os três se olharam, me olharam e fizemos aquele círculo abraçados, com mais uns 3 ou 4 que você nem sabe quem são, mas na hora do gol são da sua família, os melhores amigos que você tem.
A bandeira gigante sobe e nos cobre, o Enzo estava delirando, assim como os outros dois, Victor e Fábio (vale os créditos qui, se não eles não vão me perdoar quando forem ler este post), naquela hora cria-se um clima de total cumplicidade, todos são iguais, todos são Palmeirenses, independente de cor de camisa, pele e cabelo.
Na saída do estádio até a porta de casa foi a narrativa de 4 torcedores de todos (ou os que vimos) lances da partida.
Valeu. Troquei um sábado tranquilo e nublado por 3 anos da minha vida, daria 6.

3 comentários:

Marcela Negri disse...

Eu tava aqui conversando com um amigo no MSN, ele me falando sobre a viagem dele com a mãe e eu disse que eu nunca tive essa chance, que eu e ela sempre planejamos ir a Bonito um dia, seria um presente que eu ia dar à ela e como um bônus um show do Milton Nascimento. Na verdade, eu sempre tive medo de que o Milton morresse antes que eu tivesse grana pra levá-la ao show, mas ela foi antes dele mesmo, o cara ficou acabado, mais magro que uma vassoura e ela... Bem, ela não quis esperar pra ver o show dele aqui rs... E depois que eu disse isso meu amigo me manda no MSN "você me emocionou..." e eu aqui, lendo esse Post. Sim, você é o DONO da agência onde trabalho e eu te devo um puta dum respeito, mas tô de férias! rs, então posso dizer aqui pra você também: Esse texto me emocionou... Porque eu me lembrei de tudo o que eu nem cheguei a fazer ao lado da minha mãe, somos mulheres, talvez fossemos como você e seus três filhos. E aquele brilho no olhar do Enzo... Eu espero que um dia eu tenha um ser humano que se espelhe em mim e onde eu possa ver esse brilho e que eu seja alguém que valha a pena se espelhar. Sabe, depois que fui obrigada a ser "adulta" (aos 16 anos) acho que percebi o valor de algo que eu não tinha notado até ali - A FAMÍLIA.

Beijos!

LUIZ ALEX - PRODUÇÃO GRÁFICA. disse...

Fazer parte da torcida! Pena que nêgo confunde isso tudo e acaba em violência, mas você sabe, eu sei, e seu caçula agora sabe: Fazer parte da torcida é o momento mais legal do jogo.
Seria bom se pudéssemos assistir a um Corinthians e Palmeiras com a molecada, mas isso é coisa de filme do Mazzaroppi, um tempo em que a violência de hoje ainda não existia.
Abs Waltão.
Luiz

Carlos A.Filho disse...

Pô cara, que texto maneiro, vc pegou na veia...
Isso é que é legal, a cumplicidade de filhos e pai, seja em um jogo de futebol ou de bola de gude. Puta texto.
abs
Carlos Aguilar Filho